sexta-feira, 15 de junho de 2012

Eu amava o que não me davas


Eu amava o que não me davas
Outras amaram teu corpo
Tua paixão teu sorriso
A novidade de teu prazer
Tua iluminada inteligência

Eu amava o que não me davas
Tua paternidade, tua presença cotidiana
Teu semblante na fotografia
Teu abraço de bom dia
Teu retorno de viagens
As dedicatórias de teus livros

Eu amava o que não me davas
Longos beijos numa manhã de sábado

Eu amava amava amava
O sádico, a solidão, os sinos das igrejas de Minas
Os sons das palavras que te escrevo
Os sinais, os signos, as constelações
As distâncias que nos uniram

Queria amar o que nunca te dei
Minha percepção exata de cada parte de teu corpo
A curvatura de teus dedos em minhas retinas
A atenção devocional aos teus olhos por detrás dos óculos
Afagos sem preparo para acontecer 

Eu amava o que me davas
Dádivas divas divindades e divãs
Davas-me, amor, a vida.  

Foto: Lucien Clergue

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