quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Cópula - Manuel Bandeira

O poeta modernista Manuel Bandeira (Recife, 1886 - Rio de Janeiro, 1968) pode ser reconhecido pela forma simples e direta com que escreveu. Seu lirismo (ver Porquinho-da-Índia, Poemeto Erótico e outros) e, por vezes, senso de humor apurado (ver Pneumotórax) o colocam entre os poetas mais singelos e encantadores da literatura brasileira.
Sua obra é permeada por uma melancólica angústia,associada à resignação de quem tem consciência da morte eminente. Isto porque, desde a infância, sofria de tuberculose e passou a vida tratando-se com médicos que o colocavam entre uma das próximas vítimas da doença. Contudo, contrariando as estatísticas, Bandeira sobreviveu dia após dia, exaltando a efemeridade/inutilidade da vida (ver Belo Belo, Andorinha e outros).
A tuberculose tirava-lhe o fôlego, ao mesmo tempo que enchia-lhe de dores e febres. Além de doente, Bandeira era considerado feio para os padrões da época e declarava ser comumente preterido pelas mulheres. Era mais agradável, portanto, construir um mundo de fantasias em que tanto o amor quanto a vida eram possíveis sem dor (ver Vou-me embora pra Pasárgada, Brisa e outros).
O lirismo, simplicidade e aparente ingenuidade de seus poemas de amor são marcas singulares de sua obra. Porém, o poema abaixo transcrito, intitulado A Cópula, surpreende os leitores pela imagem fortemente pornográfica que evoca. Em irreparáveis versos alexandrinos, possivelmente representa a única incursão conhecida (por poucos) deste grande poeta erótico e liríco nos terrenos da pornografia (Antologia Pornográfica: de Gregório de Mattos a Glauco Mattoso / Alexei Bueno – Nova Fronteira, 2004).  



Depois de lhe beijar meticulosamente
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
culhões e membro, um membro enorme e turgescente.

Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinenti,
Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente

Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!"
Grita para o rapaz que aceso como um diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra

E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona adentro o mangalho até o cabo.
                                                                            (Manuel Bandeira)
                           

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