quinta-feira, 4 de abril de 2013


"Ela estava em Paris quando tinham enforcado um radical russo que havia assassinado um diplomata. Morava em Montparnasse, frequentando os cafés, e seguira o julgamento apaixonadamente, como todos os seus amigos, porque o homem era um fanático, dera respostas dostoievskianas às perguntas que lhe fizeram e a tudo enfrentara com grande coragem religiosa.
Naquele tempo, ainda se executavam as pessoas que tivessem cometido crimes mais graves. A execução, geralmente, tinha lugar de madrugada,quando não havia ninguém nas ruas, em uma pracinha perto da prisão da Santé, onde ficara a guilhotina no tempo da Revolução. E não se poderia chegar perto demais, por causa da polícia. Poucas pessoas assistiam a esses enforcamentos. Mas, no caso do russo, com tantas emoções agitadas, todos os estudantes e artistas de Montparnasse, os jovens agitadores e revolucionários, decidiram assistir. Ficaram acordados a noite toda, bebendo.
Ela esperara com eles,embebedara-se com eles e ficara em um estado de grande excitação e medo.Era a primeira vez que ia ver alguém sendo enforcado.Era a primeira vez que ia testemunhar uma cena repetida tantas e tantas vezes durante a Revolução.
Com a chegada da madrugada, a multidão deslocou-se para a praça e se colocou em um círculo, o mais perto do partíbulo que o cordão de isolamento sustentado pela polícia permitiu. Ela foi empurrada até um ponto que ficava apenas a dez metros do local do enforcamento.
E lá ficou, comprimida de encontro à corda da polícia, observando com fascinação e terror. Logo um movimento daquele povo todo a deslocou de onde estava, mas, mesmo assim, continuou podendo ver, na ponta dos pés. As outras pessoas a esmagavam de todos os lados. O prisioneiro foi trazido com os olhos vendados. O carrasco ergueu-se, à espera. Dois policiais seguraram o homem e, lentamente, conduziram-no pelos degraus da escada.
Naquele momento, ela percebeu que alguém a apertava bem mais que o necessário. Excitada e trêmula como estava, aquela pressão não era desagradável. Seu corpo ardia em febre. De qualquer modo, dificilmente conseguiria se mover. Estava de blusa branca e com uma saia que abotoava de lado, como era moda então - uma saia curta e uma blusa através da qual se podia ver que sua roupa de baixo era cor-de-rosa e se podia adivinhar o formato dos seus seios.
Duas mãos a envolveram pela cintura e ela pôde sentir distintamente o corpo de um homem, o desejo dele duro de encontro às suas nádegas. Conteve a respiração. Seus olhos estavam fitos no homem que estava por ser enforcado, o que lhe tornava o corpo dolorosamente nervoso. Ao mesmo tempo, as mãos alcançaram os seus seios e os apertaram.
As sensações conflitantes que a invadiram deixaram-na tonta. Não se moveu,nem virou a cabeça.Os botões de sua saia foram descobertos por uma curiosa mão.E cada botão desabotoado fazia com que suspirasse ao mesmo tempo de medo e alívio. A mão esperava para ver se ela protestava,antes de prosseguir em sua tarefa. Ela não se moveu.
Depois, com uma destreza e uma rapidez que não esperara, as duas mãos giraram sua saia de modo a fazer com que a abertura ficasse voltada para trás. Imprensada no meio da multidão, tudo o que pôde sentir foi um pênis sendo lentamente enfiado pela abertura de sua saia.
Os olhos dela permaneceram fixos no homem que ia subindo as escadas do patíbulo e, a cada batida do seu coração, o pênis avançava um pouco. Passou pela saia e deu um jeito de se introduzir por dentro das calcinhas. Como era quente, firme e duro de encontro à sua carne! O condenado foi detido em cima do cadafalso e a corda foi passada em seu pescoço. O sofrimento por observar aquilo era tão grande que transformava aquele contato em algo humano, cálido, reconfortante, um verdadeiro consolo. Aquele pênis latejante entre as suas nádegas lhe parecia uma coisa maravilhosa em que se podia amparar, um símbolo de vida, enquanto a morte se desenrolava à sua frente...
Sem dizer uma palavra, o russo inclinou a cabeça para acomodar o laço. O corpo dela tremia. O pênis avançou por entre as dobras macias de suas nádegas, abrindo inexoravelmente o caminho por dentro de sua carne.
Ela palpitava de medo, e era como um tremor de desejo. Quando o condenado foi lançado no espaço e na morte, o pênis deu um grande salto para dentro dela, despejando os jatos de sua vida quente.
A multidão esmagou o homem de encontro a ela, que quase não podia respirar. Quando seu medo se transformou em prazer, no selvagem prazer de sentir a vida enquanto um homem estava morrendo, ela desmaiou.

(Anaïs Nin - A Mulher da Duna; Pequenos Pássaros)

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