terça-feira, 15 de abril de 2014

Jaguar de Ouro


Minha identidade com felinos de médio e grande porte não revelo facilmente. É preciso certo convívio, interação afetiva e alguma discussão, quando só então deixo evidente minha braveza e força de ideias. Sou uma mulher determinada, agressiva nas decisões e com notável instinto de sobrevivência e proteção da prole. Minha prole, no caso, são minhas paixões, meus amores, meus relacionamentos. Um de cada vez, porque sou exclusiva e fiel, meus amores são defendidos com unhas e dentes, mesmo que para isso eu tenha que me debater com o outro ao qual dirijo este afeto. Sim, às vezes, as pessoas estragam o amor antes mesmo dele vingar; amor é ciência que se aprende com a vida, com erros e perdas. 
Neste momento, no entanto, estou ganhando, estamos ganhando. Ontem ganhei esta fotografia de um jaguar em ouro que está exposto no Museo del Oro de Bogotá, na Colômbia. Quem me mandou está em viagem por este país há duas semanas, quase. Ele quem me explicou que o jaguar é uma figura importante na cultura dos índios colombianos, pois representa a força da intuição equilibrada com o instinto selvagem. Quando recebi esta imagem, meu lado onça aflorou e por isso venho ao blog agora. Quero voltar a escrever, preciso externar as vontades do jaguar que vive em mim. Hoje não tenho ainda um poema, nem um conto, nem uma história trabalhada em texto. Mas tenho o sentimento inexpressível, intocável, adormecido prestes a acordar, para depois dormir como estátuas revestidas de ouro (ou de suor) na cama. 
Pensando nisso, respondo com um trecho de poema de Drummond, à delicadeza daquele que me enviou esta linda imagem de jaguar de ouro: "Ai, cama canção de cuna, dorme, menina, nanana, dorme onça suçuarana, dorme cândida vagina, dorme a última sirena ou a penúltima… O pênis dorme, puma, americana fera exausta. Dorme, fulva grinalda de tua vulva. E silenciem os que amam, entre lençol e cortina ainda úmidos de sêmen, estes segredos de cama". 
Era para ser segredo, era para ser remédio, era para ser saudade, era pra ser silêncio... Era para ser alegria e amor, era pra ser eu e você! 
   

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