para explicar os excessos da minha irmã e do meu irmão dizia: está na mudança de idade. Na altura, eu não tinha idade nenhuma e o tempo era todo meu. Despontavam borbulhas no rosto do meu irmão, eu morria de
inveja enquanto me perguntava: em que idade a idade muda? Que vida, escondida
de mim, vivia ele? Em que adiantada estação o tempo lhe vinha comer à mão? Na
espera de recompensa, eu à lua pedia uma outra idade. Respondiam-me batuques
mas vinham de longe, de onde já não chega o luar. Antes de dormirmos a mãe
vinha esticar os lençóis que era um modo de beijar o nosso sono. Meu anjo, não
durmas triste, pedia. E eu não sabia se era comigo que ela falava. A tristeza,
dizia, é uma doença envergonhada. Não aprendas a gostar dessa doença. As suas
palavras soavam mais longe que os tambores nocturnos. O que invejas, falava a
mãe, não é a idade. É a vida para além do sonho. Idades mudaram-me, calaram-se
tambores, na lua se anichou a materna voz. E eu já nada reclamo. Agora sei:
apenas o amor nos rouba o tempo. E ainda hoje estico os lençóis antes de
adormecer.
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